Tô Bão !
Enquanto
andava ia me lembrando dos versos de Alvarenga & Ranchinho, em O
Drama de Angélica: "...poesia ética, em forma
esdrúxula, feita sem métrica, com rima rápida...".
Isso mesmo ! Foi uma “caminhada árdua, em uma rampa
íngreme!...” Muitíssimo íngreme. Mas
compensou, e muito ! Afinal são 273 metros de cachoeira, e
será sempre a maior que conheci na minha Minas Gerais.
Prá
variar um pouquinho, fomos eu, Rose, Chico, e, é claro o
Edwaldo, neste último sábado. Infelizmente o Edwaldo
não conseguiria chegar até lá, então o
jeito foi bater mesmo à pé. Caminhada árdua...,
que rampa íngreme !... Quase desistindo de chegar ao
poço, depois de tanta parada para fotos, e no final nem fotos
conseguíamos tirar, encontramos com o Adriano, o Lívio e
a Sabrina, que nos animaram a não parar no meio do caminho.
Compensou ! Uma parada mais longa para contemplação e
descanso, um gole d’água no poço grande, e... Vamos
subir tudo novamente que a noite já vem. Dúvida no
caminho ? É só seguir o Chico, pois ele não erra.
Sempre volta por onde veio. Mesmo se for mais difícil.
Quando
chegamos ao Edwaldo, a Rose só conseguiu dar água ao
Chico e escornar no banco, enquanto ligava ao telefone. Eu fiquei
esfriando o corpo batendo meia hora de papo com o vigia do Parque,
enquanto fazíamos um cigarro de palha, com meu fumo Capoeirinha,
que a ele ofereci.
Encontramos com o Lívio, Sabrina e Adriano à noite no boteco, e combinamos de ira à Cachoeira de Congonhas no domingo, depois de merecido sono. E fomos mesmo, apesar de ter mais que uma légua de caminhada um pouquinho menos árdua, em uma rampa um pouco menos íngreme. O Edwaldo ficou no pasto, perto do cemitério do vilarejo, e nós...a pé novamente. Em uma foto que tirei dele ao longe, muito antes do meio do caminho, ele só apareceu como um quadradinho na linha do horizonte, ao lado de uma árvore.
Essa
Cachoeira de Congonhas é muito interessante. Tem uns 80 metros
de altura e, no meio, a água some por trás de uma
formação rochosa reaparecendo em outra queda mais abaixo.
Lá o Lívio achou, então, um toco de madeira,
já polido, embaixo d’água, retirando-o para a
margem. O Adriano se encanta e diz que iria leva-lo para casa.
Após uns 50 metros de caminhada ele desistiu com os vinte e
poucos quilos do toco encharcado d’água. Eu, que já
estava morrendo de inveja do toco, só percebi que o Adriano
tinha desistido uns 300 metros mais a frente. Quando fiquei sabendo da
desistência verídica do Adriano não pensei duas
vezes, apesar da Rose dizer que não. Chamei para trás o
Chico, que sempre vai de abre-alas, e comecei a caminhada de volta ao
toco. Lembrei de um velhinho que havia visto dizer que tudo que ele
precisa levar, “coloca na cacunda e segue”. Não
desanimei com a légua pela frente com o toco nas costas, naquela
caminhada árdua, naquele caminho íngreme, sempre
lembrando do velhinho. Segui na frente da turma, numa toada mais
rápida, prá não pensar muito na empreitada. Puxei
tanto o passo que no último córrego já estava
terminando de dar banho no Chico quando o pessoal me alcançou.
Vesti a roupa e continuei na frente com a toada rápida, sempre
lembrando do velhinho, mas confesso que lembrei mesmo foi Jesus Cristo
quando cheguei ao Edwaldo.
Mais
três bons amigos fizemos. Mais duas lindas cachoeiras conhecemos.
Mais algumas pequenas pedras trouxemos para o jardim como
troféu, e é claro o toco, que mais tarde um nativo me
confirmou ser de Braúna, que não apodrece na água,
atestando que ele deveria estar lá rolando embaixo
d’água há diversos anos para tomar aquela forma.
Voltamos
tão moídos que o desconforto do Edwaldo até
parecia luxo. Na segunda-feira a Rose passou a base de relaxante
muscular, o Chico dormindo mais que o normal, eu passado de tão
moído, e o Edwaldo já pronto para outra, só sujo
de uma mistura de poeira e lama. Só que depois dessa, apesar da
caminhada árdua, naquela rampa íngreme, podemos falar:
“Nós conhecemos o Tabuleiro”.
Até a próxima,...
15/06/2005
Walter Júnior - B. Hte. -
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