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Carnaval em Minas Gerais-O de 2007 !

 

       Tô Bão ! 

Com nosso costume de sempre viajar terra à fora, na volta do carnaval, querendo fazer uma brincadeira perguntei à alguns amigos: : "O que é carnaval?" 

Um deles, paulistano, respondeu, e a resposta voltou rápida: "Eu não entendo muito disso... mas vou tentar explicar. Carnaval é um feriado bem grandão... dura quatro dias e meio (não sei o porque do meio). Na prática ninguém faz coisa nenhuma na semana anterior a esse feriado. E se tentar vai perder tempo, pois vai tentar sozinho. Durante o tal feriado você não pode viajar, pois as estradas ficam intransitáveis. Quer dizer, até pode, mas vai passar um dia parado na estrada pra ir e outro pra voltar.. Aí você desiste e passa dois dias tentando fazer alguma coisa produtiva, sem sucesso. Mas fica cansado de fazer correria à toa, e passa o terceiro dia dormindo. No quarto dia você tenta salvar seu feriado e vai pra um parque ou andar no shopping que estão lotados também. E vem pra casa cedo porque o trânsito já tá virando uma zona de novo. Acaba dormindo tarde pois seus horários estão todos confusos, e acorda tarde com gosto de sabão na boca e vai trabalhar depois do meio dia, perguntando que raio você está fazendo indo trabalhar essa hora sabendo que ninguém vai fazer nada mesmo. No resto da semana, que só tem dois dias e meio, também não se consegue trabalhar. E passa o final de semana seguinte duro, resmungando que só tem vagabundo nesse país mesmo. Ah, e nem tente ir ao mercado, pois metade dos produtos está em falta e o que tem aumentou de preço. Ah ! E na TV só tem batuque."

Minha pergunta foi também provocada  pela reflexão que tive antes do carnaval, pensando nos diversos tipos e maneiras de como se aproveitar um feriadão. 

Se quiser tranqüilidade, Belorizonte é o melhor lugar, dá prá tomar cerveja na Praça Sete sem ninguém para olhar. Praia é bom, principalmente prá mineiro que não tem mar, mas, depois que se conhece um Jeep e principalmente, onde ele pode te levar, dentro de Minas Gerais mesmo, praia nem tem graça. Além do mais tem sempre aqueles retardados que abrem o porta-malas do carro, e enchem o saco num raio de dois Km tocando música de péssimo gosto. 

“A potencia do equipamento é inversamente proporcional ao gosto musical”, já tinha me dito o mesmo amigo, o Waguinho Brabuleta, da lista da Rural na internet. Se bem que ele assina Wagner Butterfly, mas a tradução literal disso para o Mineireiz Arcaico seria: Wagner Libélula Esvoaçante, muito boiolável para um mineiro, sendo preferível mesmo o Wagner Brabuleta, que soa ligeiramente mais másculo. Brincadeira com o Wagner, mas se brinco é porque ele gosta e  não se impota com isso.

Antes do carnaval eu tinha lido em uma matéria de jornal que dizia que a Polícia Mineira não permitiria beijo forçado e nem xixi na rua durante o carnaval em Diamantina. Logo em Diamantina, onde passei uns três carnavais, vestido de mulher, tomando vinho Maravilha no bico deitado no meio da rua Macau do Meio, em frente ao Buteco do Marcinho. Era duro aquela época, pois além do batom, tinha a obrigação de sair com toda aquela saia atrás do “Cabeça de Porco” ou do “Sapo Seco”, que eram blocos empurrados somente pelo tarol, surdo e trombone de vara, escutando e cantando marchinhas de mais de 80 anos, e nem por isso por nós desprezadas. 

Ah ! Acho que foi eu e o João que começamos com esse treim de fazer xixi na rua, mas éramos só nós dois, a grande maioria era educada. Mas era um carnaval comportado, e eu incorporava bem o espírito da Creuzodete Vulvalinda, menina difícil que só dava bola para os rapazes mais bonitinhos...  Prá ninguém pensar paiaçada, nos blocos de Diamantina as meninas se vestiam de homem. 

Naquela época, há uns 20 anos, quando ainda se fabricavam bons carros com platinado, também não tinha beijo forçado. Diamantina hoje é o inferno durante o carnaval. Ao exemplo dos beócios com carros de porta-malas aberto nas praias, lá é bem pior. Colocam um trio elétrico tocando pseudo Funck e samba mentiroso, chamado de Axé, durante 24 horas por dia, durante todo o carnaval. Ninguém dorme, e muito menos conversa. Acho que, prá gostar de um treim desses, esses meninos de hoje não tem é assunto... Não que eu não goste das músicas ou dos ritmos, só que acho que eles tem hora e lugar. Muito raros, com certeza, mas tem.

Carnaval prá gente hoje é muntar na cacunda do Jeep. Visitar lugares, conhecer pessoas, ficar em pensões e dormitórios que chegam ao inacreditável, e visitar lugares não acreditáveis. Mas gostar disso. Afinal, num é esse o espírito do Jeep ? 

Só que nesse ano, foi uma pena, eu não tinha Jeep prá fazer a viagem de carnaval. O Edwaldo está completamente desmontado, sem condição alguma de rodar nem que seja numa volta de quarteirão. Uma pena... Fazer o que?... 

Fazer o que!... "Arruma a mala aê que a Rural vai viajar", é assim que canta a música! E foi muntado na cacunda da Faustina é que fizemos a viagem.

O destino era uma pequena cidade com cachoeiras e estradas de terra, como gostamos, como qualquer cidade acima do paralelo 19º sul. Nessa a bagunça maior ficou por conta de arrumar onde dormir. Só uma pensão, que estava trocando de dono. O Zé Carlos ia com o pessoal dele, pois ele nunca falha nas viagens de carnaval. Ai, com mais gente, a confusão foi maior. Não tinha lugar para todos, e até consultei outros destinos, prá não deixar o Zé prá trás. Foi uma pena, seria a primeira viagem do Ygor, o fiotinho menor deles. A Diene também iria depois de alguns anos, pois a cria não permitia viagens desse porte durante os outros carnavais recentemente passados, o que obrigava o Zé a ir sozinho no Raul, o Jeep dele. Mas o danadinho arrumou uma doençinha, daquelas de menino, e ficou o Zé Carlos para trás. Então vamos para Monjolos mesmo. 

O Lívio e a Sabrina nos acompanharam, trazendo junto a Nicolle. Cocker esnobe ela, nem suja nas cachoeiras. O Chico fica igualzinho eu: barro puro, areia pura, sujeira pura. Eles foram de Corsa, que acompanhou a Faustina nos estradões até o destino. Mas ficou quietinho o restante do passeio, pois num ia dar conta de acompanhar a Rural mesmo, nas estradas piores.

Na terça-feira nos mudamos nosso endereço para outro pequeno lugarejo. Já tínhamos conhecido tudo que era bom na primeira cidade, bem como nos lugarejos próximos. E nos mudamos novamente na quarta-feira, pois nossas companhias iriam voltar. Essa viagem nos obrigou a conhecer outra cachoeira. Saímos quarta-feira cedo para nosso destino, e depois de pouco rodar, achamos uma caminhonete carregada de Pinha, com a suspensão quebrada, bloqueando a estrada de um jeito que num dava nem prá arrastar. Depois de procurar e não achar outro caminho alternativo, o Geraldo Kussu nos deu a dica de uma outra cachoeira inédita. Ficamos até as 3 da tarde, voltando prá almoçar e esperar a caminhonete passar já consertada. Gastaram umas 10 horas prá conseguir desentupir a estrada. Foi na volta dessa cachoeira que ficamos pegando pequi na beira da estrada. Já não é mais época dele, mas tinha alguns atrasados.

A época de agora é mesmo do Araticum. Também conhecido como Articum, Panam, Marolo ou Cabeça de Nego, fruta também do cerrado, prá lá de boa demais.

Já de volta, mostrando as fotos de ferrovia, estações ferroviárias, pequi e araticum ao meu pai, isso comendo os que eu levei prá ele, enquanto me contava quando era menino e morava em Formiga, na beira da linha, pois meu avô era Chefe de Estação da Rede Mineira de Viação. Tinham as locomotivas, todas à vapor, sendo as 337 e 338 das “Pacíficas”, que quer dizer Pacific, máquinas de velocidade, com três cilindros e três eixos motrizes. A 339 e 340 foram todas fabricadas em Divinópolis, sendo importadas apenas as caldeiras. A 505 era grande, uma Mikado, máquina de força, com dois cilindros e quatro eixos motrizes. Tinha também uma pequenininha, a 242, cujo foguista gostava muito do menino, o meu pai. Ele e o maquinista sempre paravam o treim no meio da linha pela região de Arcos, para pegar Araticum e levar para o menino de presente. 

Bacana essas histórias de estrada de ferro, que também são grandes, mas essa é um pouco triste. Uma vez, por um erro de tráfego, na região de Bujios bateram a enorme Mikado 505 e a pequenina 242 de frente. O maquinista e o foguista da 242 que tanto gostavam do menino meu pai não voltaram dessa viagem. Meu pai me contou isso triste, e disse que se lembra quando passou a 242 e a 505 rebocadas, com as bielas das rodas desligadas, rumando para as oficinas de Divinópolis para a reconstrução. E eu pensativo, o melhor é melhor levar a vida.

Mas só sei que nesse carnaval foram 11 cachoeiras, sendo 10 inéditas, sendo que a Faustina chegou ao pé de 9 delas, bem pertinho e nem à pé se precisou muito andar. Mesmo assim, se fosse com o Edwaldo, e mais um animado acompanhando, dava prá chegar de carro em todas elas. Mas só com a Faustina, o que pedia mais prudência, e eu morrendo de dó de moer ela demais, andamos um pouquinho para chegar à duas delas. E para cumprir todo o trajeto foram 985 Km de Rural no total. Não consegui rodar a marca dos 1.000 Km, tão pouco fazer uma média acima dos 7 Km/l. Deu 6,96 Km/l, o que vai me obrigar a fazer outras tentativas.

Muito bom rodar em uma estrada de ferro desativada. É uma pena isso, mas ficou partes dela onde dá para rodar de carro, passeando de Rural e viajando pelo tempo, pensando nas locomotivas que por ali passaram. Inclusive uma delas veio puxando o vagão em que estava Juscelino Kubitischek, ao vir para Belo Horizonte. Tão vendo? Jeep também é história... Brincadeira boba ! Jeep por si só já é pura história.

Teve também as piscinas quentes. São águas minerais, que nascem no pé da Serra do Espinhaço a 32º C. O lugar é de boa pinga, e tive que tomar algumas Providências. Isso acompanhado de cerveja e o salaminho que estava sobrando na matula da Faustina. Aquela região é toda de pinga boa, e a Providência é uma delas, expliquei agora ? Tomei umas três, com duas cervejas, e como tô meio parado com bebedeira, só isso já deu prá dar um grau legal, do jeitinho que a Creuzodete Vulvalinda saia em Diamantina...

Tudo isso é muito longo para se contar rapidamente.

Mas ficam as fotos, e a lembrança do cheiro da comida de lenha com carne de lata da Renilda em Santa Bárbara/Augusto de Lima, e também da lingüiça com queijo fritando na chapa do fogareiro do Lívio nas cachoeiras. 

A delícia de comida e a simpatia do Sô Oswaldo em Rodeador/Diamantina, no boteco dele, e que dá pensão se encomendar. 

Do bandeco-marmitex-quentinha-sonrisal em Monjolos, que era o único meio de se comer no lugar. 

Do Dormitório da Dona Anunciação em Curimataí/Buenópolis, da venda do Kussu em Conselheiro Mata/Diamantina, onde é proibido peidar e sair são. 

Das lavadeiras lavando roupa na cachoeira de Curimataí, da Faustina desatolando caminhonete e atolando em minas de água na estrada de ferro desativada. 

Fica a lembrança das pontes sobre o Rio das Velhas, do Rio Pardo Grande, das pinhas, pequis e araticuns apanhados fresquinhos. 

E além de muitas outras lembranças mais, fica a estrada de terra que de tanto mato não parecia estrada, e da estrada de asfalto que de tanto buraco não parecia estrada durante toda a volta. 

Ficam partes bem vividas da vida.

Até a próxima,

                                03/03/2007

Walter Júnior - B. Hte. -

waltergjunior@waltergjunior.com  

waltergjunior@yahoo.com.br 

 


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