Início
Voltar

Moeda

 

  Tô Bão ! 

Foram duas viagens à Moeda. A primeira, num final de semana em 03/08/2002, e a segunda num domingo, em 14/11/2004. Não sei porque até hoje não escrevi nenhuma delas, pois essas duas viagens tem histórias prá guardar, e que estavam sendo somente contadas. Ambas foram pelo mesmo caminho, com pequenas variações após Melo Franco, e sempre rodando através do vale do Paraopeba, cercado por uma pequena parte da Serra do Curral, pela Serra do Rola Moça e Serra da Moeda, todas estas derivações da Serra do Espinhaço. Quase todo o caminho, e os distritos são no município de Brumadinho.

Na primeira, viajamos foi com o Gutty e a Eliane. Nessa o Chico não foi, pois na data ainda estava no canil terminando o adestramento. Foi a viagem em que arrastei uma faixa no peito do Edwaldo. Já contei essa, mas vou contar novamente: Descendo a Serra do Rola Moça, do outro lado, naquele decidão numa reta, já quase em Casa Branca, tinha uns colegiais fazendo pedágio para uma gincana. O banguelão comendo solto, e os "meninos" fechando a estrada com uma faixa. Puxei os faróis, e achei que abaixariam ou levantariam a faixa para o Edwaldo passar. Que nada! A faixa ficou no mesmo lugar. A Rose também remendou: "Desce o pau !" Obedeci ! Parado uns 100 metros depois, com um deles correndo para resgatar a faixa, só perguntei: "Num sabe que freio de Jeep num presta ?" E o Gutty aplaudindo pelo rádio, logo atrás. Acho que eu estava mesmo era com medo do Gutty não parar ! Também eles não resolviam se abaixavam ou levantavam a tal faixa...

Após Casa Branca, passa-se por Córrego do Feijão e depois por Melo Franco, com destino a Cachoeira da Toca, que também é chamada de Dunas do Paraopeba. É uma cachoeira cercada de praias com dunas, e um entancado do rio Paraopeba logo abaixo. Lugar belíssimo, de fácil acesso. Só é pena que nessa altura o Paraopeba já ter passado por Moeda, Belo Vale, Jeceaba, Congonhas, São Braz do Suaçuí, Queluzito e Cristiano Otoni, isso sem detalhar muito, o que lhe confere uma cor não muito normal, e um cheirinho muito ruim. Poluição pura ! Aquele lugar é mesmo só prá ver, e lamentar...

Um pouco antes da Toca, lá vem o Gutty agarradinho na traseira do Edwaldo. Tive que avisar prá ele dar distância em um subidão acascalhado. O Edwaldo estava jogando pedra demais para trás, e toda hora batia uma num amortecedor, soando igualzinho um sino. "Gutty! Rádio é principalmente para podermos dar distância de um carro à outro. Vê se fica um pouquinho prá trás, se não o Edwaldo vai apedrejar seu Jeep todo..." Mas não adiantou o aviso. Esse ai gosta de viajar pertinho mesmo, sempre gritando pelo rádio que "...poeira é doce!"  Já na Toca, embalei e subi em uma duna com o Edwaldo, deixando ele estacionado lá em cima. Se ele agarrasse, estava fácil de tirar. Me vem o Gutty, para no pé da duna, carca uma primeira reduzida, e me inventa de subir, com aquela sua delicadeza habitual. Conseguiu só cavacar areia, quase destruindo a duna. "Larga esse carro ai embaixo mesmo, Gutty!" E num é que o Edwaldo inventou de agarrar na hora de ir embora? Atolou na areia fofa quase até o chassis, mas saiu sozinho, pois prá baixo o santo ajudou. Pneu de Jeep não é para areia mesmo.

O melhor dessa história ainda estava por vir, após a chegada em Moeda. E o Gutty sempre gritando no rádio que a cidade estava cheia de moedano... Almoçamos na cidade, e fomos procurar uma fábrica de doces que o Gutty já conhecia. Acabamos por ter indicação de outra, e achamos a fábrica de doces da Dodora, recheada de doces tentações da roça. Antes do Gutty e a Lili voltarem para Belo Horizonte, saímos procurando uma pousada para eu e Rose. Esses dois trabalham todo domingo, lembram? Viajavam só no sábado.

Achamos uma pousada bacana, num lugar bacana... Legal, estamos arrumados, e tem até um Jeep branco por aqui. Não fosse a gritaria de um tanto de menino na piscina, somada à um tanto de bêbado no boteco da pousada, até tínhamos ficado. "Vão embora procurar outro pouso!". E foi só funcionar os Jeep's, que me sai uma loura doida de dentro do boteco gritando: "Peraí, companheiros! Vamos conversar!" E a tal loura doida agarra a gente de conversa, sem parar de falar um instante. "Prazer! Sou a Eliane, dona do Jeep branco", e patatí-patatá, e num parava de falar... E eu doido prá ir logo achar outro pouso, e o Gutty doido prá voltar para casa. Dada a conversa por encerrada, já saindo com os carros, a Rose me vira prá loura doida e pergunta: "Aquele ali na mesa é que é seu marido? Conheço ele, é cliente da loja!" Pronto! A loura doida me chama o marido, o Ímolo, que estava mais tonto que uma égua, de tanto beber juntamente com um caipira nativo e um peruano perdido na Serra da Moeda. Eu já tinha passado próximo a mesa deles, escutado uma parte da conversa. Conversa de tonto, cheia de papo cabeça... Ser casado com mulher que trabalha no varejo tem disso. Conhece todo mundo, em qualquer lugar que se vá. Melhor se candidatasse a vereador... E me veio o caboclo, agarrou mais na conversa, e nesse meio descobrimos que moravam próximo à minha fábrica, que tinham outra que fazia insumos de escritório que a Rose comprava, e o falatório não parava. "Ô gente, deixa nóis ir embora prá procurar um pouso", falei a eles. Foi nessa hora que o Ímolo e a Eliane retrucaram: "Não! Vocês vão ficar lá em casa, no nosso sítio. Mas antes vamos passear numa cachoeira aqui em cima." E também não deixaram o Gutty ir, obrigando eles a irem à cachoeira também. Fecharam a conta, subiram no Jeep branco, que depois fiquei sabendo que se chamava Suspiro, e foram na frente ensinando o caminho. Rodamos uns 5 Km, e o Ímolo manobra o Suspiro de volta, me caindo numa vala no canto da estrada, de tão tonto que estava. Tive eu que ligar as rodas livres do Jeep, manuais, e uma dentro do buraco! O recurso foi mergulhar por cima do capô para ligar a que estava lá no fundo. O Ímolo tentou, e não conseguiu. O Suspiro estava agarrado. Vem o Gutty com uma corda de uns 30 metros, mas me para a 3 metros do Suspiro. "Dá mais distância ai, Gutty. O pião tá tonto, e num demora bate no seu Jeep quando o dele sair do buraco". "Então deixa eu tomar a direção do Ímolo, prá sair mais rápido, e não amassar seu Jeep, mula manca!" Tiramos o Jeep da vala, e continuamos seguindo procurando a tal cachoeira. Num é que o Ímolo me volta para o mesmo boteco onde estávamos? Parou uns 50 metros à frente, apeou e disse: "É aqui!". Era um sítio abandonado, com um corguinho e uma bica caindo água. Abusei um lugar mais difícil para uma fotografia, e a Rose me seguiu, desobedecendo nas minhas orientações de como passar no lugar. O resultado é que tomou um tombo de bunda, dentro da lama do corguinho. Tudo fotografado pela Lili do Gutty.

Fomos embora para o tal sítio dos dois, comprando cerveja antes de chegar. E o Gutty querendo voltar, e o Ímolo não deixando. Vamos fazer um churrasco lá em casa. Ao entrar na casa do sítio deles um susto. Tinha um raio de um esqueletinho com sensor de presença. Aquele treim deu um grito e acendeu os olhos quando entramos, com tudo escuro ainda. Um susto desgraçado. E eu pensando: "Onde amarrei minha égua? Uma doida, um tonto, e uma casa mal assombrada. Mas agora foda-se, desculpem, azar!"

Acabou que o Gutty e a Lili ficaram para o churrasco, muito bom por sinal. Foram embora em seguida, e eu e a Rose passamos a noite por lá. Fomos acordados com um tremendo café da manhã, com pão de queijo na hora, e mais uma coizerama danada. O Ímolo já de ressaca, bem diferente do dia anterior, exigiu que também almoçássemos por lá. Ficamos um pouco no sítio, e saímos para dar uma volta pelos matos e pela cidade. Tiramos foto na estação de Moeda. Compramos queijos no laticínio, mel do Leonel, e ganhei uma picada de fumo ali por perto. Fumo de Moeda é famoso, mas meio forte prá minha fraqueza... Voltamos para o almoço, coisa de doido também. Galinha caipira, angu, e aqueles treim que são bão demais da conta. Andamos mais pelo sítio, conversamos mais outro tanto, com a Eliane confessando que queria viajar conosco de Jeep. O Suspiro só ficava no sítio, e só dava voltinhas por lá. Aliás, desse dia em diante, prá não confundir a Eliane do Gutty com a do Ímolo passei a chamar uma de Lili e a outra de Eliane, a louca. Mais à tardinha voltamos, passando por Moeda Velha, saindo lá "no topo do mundo", pegando a BR 040 no resto da volta.

    Já na segunda viagem à Moeda, foram eu, Rose e Chico no Edwaldo, e o compadre Pitt's, com a comadre Selma, Mariana, Thales e o Vinícius na Justina, a Rural deles. O Beto não foi. Tinha terminado o namoro com a Mariana mais uma vez. Esses dois já terminaram umas trinta vezes, e nem damos papo para esse assunto mais. O caminho foi o mesmo, só que dessa vez, ao chegar na Cachoeira da Toca, inventei de ir até a beira do rio Paraopeba com o Edwaldo. "Pula ai dentro, Thales. Vão lá na beira d'água." E o Thales cabreiro: "Será que esse Jeep num vai atolar na areia não?" Disse à ele que a chance era grande, os pneus do Edwaldo definitivamente não são para areia, ainda mais areia fofa. Mas a Justina estava lá, e qualquer problema era só amarrar o Edwaldo nela e arrancar ele do enrosco. Acabou que o Edwaldo foi e voltou da beirada do rio, saindo sozinho do areião. Tive um pouco de dificuldade no último trecho, subindo o morrinho de areia, mas estava tranqüilo, pois a Justina estava com os pés no chão firme, e já ao alcance da corda. Mas deu certo.

Essa viagem foi divertida, parando nas vendas de Córrego do Feijão, e tomando cerveja quase que em todo lugar. A única tristeza é que asfaltaram da sede de Brumadinho até Melo Franco. E devem asfaltar até Aranha, Piedade do Paraopeba e "topo do mundo". Cidade que tem mineradoras é assim mesmo. Asfaltam tudo, fazem ponte nos rios, colocam mata-burros arrumadinhos, e acabam com toda a alegria de um Jeepeiro. Mas foi um passeio bom, e almoçamos em Moeda no mesmo restaurante que tínhamos almoçado com o Gutty e a Lili na primeira viagem. Também voltamos à fábrica de doces da Dodora, onde o cumpadre Pitinho ficou que nem menino no meio de tanto doce caipira, do bom e do melhor.

Já na volta, passando novamente por Moeda Velha, tivemos que passar pelo Côco, distrito de Moeda, e na porta do sítio de quem? Do Ímolo e da Eliane, a louca. Já tinha um bom tempo que não viamos eles. Depois da primeira viagem tinha encontrado com eles por perto da fábrica, e a Rose tinha os visto quando foram comprar coisas na loja. A entrada do sítio estava um pouco diferente, pois tinham tirado a porteirinha e colocado um portão eletrônico com interfone. Já viram sítio com esses treim? Pois é, lá agora é assim. Toquei o interfone, e veio a Eliane, a louca, atender. Notei que era ela, e resolvi fazer hora, amolando ela um pouco. "Ô dona! Eu sou o Zé Leotério, lá do Côco, e tô aqui porque o Sô Ímo mandou eu vir fazer os cascos da égua." "Mas num tem égua nenhuma aqui!", respondeu ela assustada. "E mula? Num tem não? Vim fazer foi os cascos da mula". "Não!", respondeu ela ainda mais assustada. "E eu tô falando com quem então? Num é com a mula do Sô Ímo? Abre essa porqueira de porteira ai, porque nóis tão querendo entrar prá beber café". Ai que ela reconheceu minha voz. Ficamos um bom tempo conversando, esprachados  e escornados pela varanda à fora. Até o Chico se estatelou... Depois de um cafezão cheio de quitandas, voltamos para Belorizonte.

Continuamos amigos, nos encontrando de vez em quando. Mas amigo de verdade, mesmo sem encontrar sempre, quando encontra é uma festa, e o assunto não falta, já notaram isso? A Eliane, a louca, cismou e acabaram vendendo o Suspiro, comprando uma Land Rover. Diz ela, depois de tanto escutar e ler as histórias das viagens com o Edwaldo e com a Faustina, que agora quer é vender o sítio, liberando-se da obrigação da manutenção. E disse que isso é para viajar conosco pelas empreitadas Minas à fora.

Até a próxima,

31/07/2007

         Walter Júnior - B. Hte. -
waltergjunior@yahoo.com.br

walter.junior@ig.com.br

 

 

A primeira vez em Moeda, em 08/2002

 

   

 

   

 

   

 

         

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

    

 

 

 

 

 

A segunda vez em Moeda, em 11/2004

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

    

 
   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

   

 

 

    O Ímolo e a Eliane, a louca, aqui em casa, numa comilança e bebeção ao rabo do fogão à lenha. Essa é para provar que a amizade continua! Oceis tão cansado de saber que num falo mentira nunca. E agora estou com mania de provar tudo que falo... 

    Brincadeiras à parte, essas fotos só provam a tese do espírito do Jeep, que é sempre fazer mais amizades, conhecendo um tantão de lugares. E sempre conhecemos lugares e gente que compensa, apesar que nesse caso, à primeira vista pareceu que não ia compensar!...

 

     


Início

Voltar