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No Topo do Espinhaço

  Tô Bão ! 

"Quando à noite a linda lua torna as pedras cor de prata
Diamantina sai à rua transformada em serenata.
Seresteiros indormidos, dedilhando violões,
Levam música aos ouvidos e saudade aos corações.
A seresta apaixonada corre as ruas do Macau,
Capistrana, Cavalhada, São Francisco e Burgalhau.
Estas ruas serpeantes é tão fácil entendê-las,
Descem doidas por diamantes, sobem ávidas de estrelas.
O Itambé, mesmo de longe, ouve os sons quase em surdina,
Ergue as mãos azuis de monge e abençoa Diamantina.
Se de um sonho nada resta, só saudade, só, mais nada,
Como é linda uma seresta numa noite enluarada".

 

Essa música é Diamantina em Serenata, do Pe. Celso de Carvalho. Escuto minha avó, que é de Diamantina, e também  minha mãe, cantando ela desde menino. Sempre impliquei com o "Itambé, mesmo de longe" na letra, e desta vez resolvemos ver o Itambé de perto.

A turma foi a de sempre: Eu, Rose, Chico e o Edwaldo. Saímos na sexta-feira bem cedo, parecendo magnata que não tem que trabalhar, mas com vendas em baixa do jeito que estão, não perdemos absolutamente nada no serviço. Mas num é prá falar de economia, política e muito menos trabalho que estou aqui.  Muito antes pelo contrário, vim falar do Pico do Itambé, ponto mais alto da Serra do Espinhaço.

Já tínhamos chegado bem perto dele, em Capivari, no carnaval de 2005. Mas prá subir de lá a coragem tem que ser redobrada, pois é bem mais difícil. Só que esse acréscimo de dificuldade  por Capivari não diminui em nada a também grande dificuldade de subir por Santo Antônio do Itambé. Ao menos dá para chegar a 10 Km do pico de Jeep, que apesar da estrada arrebentada, e das grandes torções que o Edwaldo sofreu, quebrando mais um tanto a carroceria dele. Para quem não dispoe de um Jeep, a caminhada fica em 19 Km na subida, e outro tanto na descida.

A carroceria dele não está mesmo boa, vou ter que desmontá-lo, e estou esperando somente terminar a Faustina para dar início a mais esse divertimento. Torceu tanto que arrebentou os fios do toca-fitas, deixando ele mudo. Toda vez dizemos que esta é a despedida dele antes da reforma, mas ele vai agüentando assim mesmo mais outra. Range, estala, trinca, mas continua rodando. Mas mesmo no sacrifício, o bichinho foi e voltou na boa, andando bem com seu motorzinho mais amaciado após 2.000 Km, e altamente econômico com seus 7,20 Km/l. Esse último dado é sempre polêmico, pois tem Jeepeiro que me chama de mentiroso, e o pessoal dos carros baixos, que me chamam de doido por rodar num carro que bebe tanto. É duro ser de libra. Essa balança num para no meio nunca !...

O tempo estava bom no dia da subida, mas com a seca e a grande altitude, o horizonte fica meio avermelhado, enfumaçado, pela bruma e pela fumaça de tantas queimadas. Mesmo assim, do alto de seus 2.023 metros, dá prá ter uma vista de mais de 250 Km, e avistamos umas 5 cidades. Durante a noite dá prá ver bem mais, sendo mais fácil localizá-las pelas luzes. Deu para ver a Serra da Piedade em Caeté, que também faz parte do Espinhaço, e estava há uns 220 Km em linha reta. Fico imaginando que em um dia limpo, e se tivéssemos a Serra do Caparaó, dava prá ver até o marzão dos mineiros, lá no Espírito Santo. Isso tudo que faz valer a pena a trilha de Jeep de média dificuldade e pesada em alguns pontos, por mais de uma légua, somando a caminhada morro acima, por mais 10Km, que fazem a subida do Tabuleiro parecer brinquedo. Papai vai gostar de ver eu usando a pázinha de campanha que me deu para colocar no Edwaldo, consertando estrada para o tranco ser menor.

A altura do Pico do Itambé é um dado controverso. Já vi 2002, 2023, 2200, e até 2300 metros, mas o dado mais confiável que tenho é mesmo os 2.023 metros, o que é muito para o Espinhaço, que tem altitude média de 1.100 metros.

Somamos mais três cachoeiras na lista, e deu até prá molhar o dedo na água congelada. O Chico é quem teve que tomar banho na água fria, pois não entendo porque, de vez em quando ele tem umas idéias que parecem ser de cachorro. Uma mania desgraçada que me inventou é a de rolar em esterco de vaca, principalmente os mais fresquinhos... Vira e mexe ele me apronta uma dessas, e aparece todo feliz mostrando o feito, ostentando uma tonalidade verde, às vezes muito bonita.

A Rose riu demais com o restaurante que fecha para o almoço, na cidade. O pior é que é o único, sendo que o concorrente fechou as portas semana passada. Mas a Pousada do Niní, a Pousada Pé de Serra, está de parabéns, pois apesar de ser a única da cidade, é muito boa, tendo até aquecimento solar, coisa que não estamos acostumados em nossas andanças de Jeep.

Num é que no sábado, dia em que subimos o pico, o restaurante também fechou para o jantar ?  Salvou bem foram os queijos que compramos na fazenda do Sr. Joaquim, ponto em que deixamos o Jeep durante a subida. Fazenda muito antiga, tradicional, onde a atividade principal é mesmo o queijo, pois não tem acesso para mais nada... Tivemos que encarar um sanduba, e depois foi até o melhor. Fomos à barraquinha montada próximo ao chafariz da ponte,  tomar caldo de mandioca e comer pastel feito e frito na hora. Isso enrolados nas japonas, toucas e luvas, amargando um frio gostoso. A barraca foi por causa do show do conjunto local, os Vírus e Bactérias, que ao contrário que possa parecer, tocam muito bem, com um som não tanto alto, o que torna muito mais agradável as músicas. Não ficamos mais pois íamos ao Cruzeiro da cidade ver estrelas, sem contar que a cama chamava muito alto também.

Não sei se consigo voltar lá no Pico do Itambé. Repetir doideira não compensa muito, tem que ser doideira nova. E essa foi de arrebentar, pois nunca vi um calçado acabar em um dia. O da Rose ficou imprestável, e o meu até que chegou inteiro lá em cima, mas destroçou nas freadas da decida, sobre as pedras e o cascalho de quartzito solto. No Tabuleiro, naquela "Caminhada árdua, em uma rampa íngreme", lembram, foi assim também. Mas o calçado já tinha algum uso, não estava novo como o de agora.

Sabem que não achei nenhuma roseira lá ? O Falcão deve ter plantado a tal roseira daquela música dele em um cume mais baixo... Quer saber ? Falando em música vamos ficar mesmo com Diamantina em Serenata que é muito melhor.

Até a próxima,

25/07/2006

         Walter Júnior - B. Hte. -

waltergjunior@uai.com.br

walter.junior@ig.com.br