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O Motor da Faustina

  Tô Bão ! 

Continuo eu, em minha odisséia na refabricação da Faustina. Falta muito pouco na oficina do Sr. Manoel. Apenas umas chavinhas das luzes internas, iluminação do motor e ligar o interruptor de buzina, sendo que o fio já está até passado dentro da vareta do setor de direção.

A mecânica já está toda pronta. Faltava colocar o tanque, ligar o filtro de gasolina dentro da longarina, coisa que me desaconselharam, mas enquanto eu vivo for, sei que ele está lá, e que será ótimo troca-lo de vez em quando. Terminei eu mesmo estas coisinhas do sistema de alimentação, e todo animado, parti para colocar "fogo" no motor dela. Até que ele deu uns sinaisinhos, mas não rodou. Logo vi que era a bomba de gasolina, pois já estava cismado com ela, pois retirei a mamadeira há uns 2 meses, e só agora liguei o tanque. Sem muita frustração, retirei a bomba para trocar o reparo, pois o Sr. Quito tinha me dado um reparo quando comprei a Faustina, inclusive com um diafragma original, digo, Peça Genuína Willys, a única peça desse tipo que coloquei a mão até hoje. Só que o danado do reparo estava faltando o retentor de óleo, e o jeito foi comprar outro, mesmo tendo quase todas as peças. Custou R$ 25,00, por causa daquela danadinha de borrachinha que é o retentor. Mas tudo bem, pelo menos guardo o diafragma original como peça de coleção, e no mais, não ia mesmo trocar a bomba, pois a Faustina, senhora de idade que é - fez quarenta aninhos no dia 16 de julho passado. Dia 16 eu mesmo arbitrei, mas o Sr. Quito me disse que havia comprado ela em julho de 1962, e como 16/07 é uma data marcante na minha família, gostei desta data para aniversário da Faustina. Tá, tá, tá bom. Estava falando da bomba nova, que para encurtar, aceita só mangueira, e a Faustina merece caninho de aço galvanizado ligando a bomba ao filtro do carburador, aquele bem velhinho, com vidrinho de "remédio" e elemento filtrante de pedrinha, que eu ganhei e adaptei um filtro de telinha. Depois que compramos o Edwaldo, eu soltei a franga na Faustina, e a chatura habitual se transformou em frescura extrema, com direito a diversos diminutivos.

Bomba montada, instalei-a no motor, conferi a água, o óleo, que já foi tudo trocado, mas o ritual tem que ser cumprido. Abri o distribuidor, regulei o platinado, coloquei a polia no ponto, dei uma "chegada" no distribuidor, fechei-o e sentei "fogo" no motorzinho da Faustina. Reloginho, funcionou na horinha. Dei mais uma mexidinha no distribuidor, colocando o ponto no "ouvido", e mostrei para o Sr. Manoel que estava ao lado o funcionamento perfeito, comentando que o BF 161 tem o barulho muito mais bonito na Rural, que no Jeep. Sr. Manoel saiu, e deixei o motor esquentando, redondinho-também 180,00 para o Zé Carlos colocar o carburador novo-, para acabar de regular a lenta. Não passou dois minutos da saída do Sr. Manoel, e chegou o Jefferson, dizendo que tinha que colocar no ponto na "alta". "Pode por para mim, Jefferson, pois meu ouvido de meia-colher de mecânico só funciona na "baixa"". O Jefferson, então deu uma acelerada, e mais uma, e... paffffffffff, rok, rok, rok. Gostaram da onomatopéia? Estrondou um baita barulhão, que me assustou enormemente. Não tanto o barulho, mas os olhos arregalados, querendo pular fora e rolar pelo chão, que o Jefferson, depois de um pulo, fuzilou em mim, como quem dizia: "Não fui eu não. Num fiz nada de errado". Escutei o barulho uns 5 segundos (que precisão FDP) e dei a volta na Faustina, desliguei a chave, chamando o Sr. Manoel em seguida, o que foi prontamente atendido, logo após o término de seu acesso de riso por causa dos "zoiões" do Jefferson. "Ateia fogo nesse treim ai", ordenou o Sr. Manoel, e..paffffffffff, rok, rok, rok. "Pode desligar, e tirar este motor prá fora. Deve ser o volante que bambeou, ou a embreagem que soltou algo, ou... o virabrequim que quebrou."

Fui embora, lembrando de dois dias atrás, quando eu conversava com o Leo, filho do Sr. Manoel, que eu estava me preparando para "pissuir" uma Rural que anda,  já que uma que não anda, já tinha acustumado ter. Mas estava certo de que a Faustina ainda queria ficar um pouquinho mais na companhia do Sr. Manoel. Voltei na parte da tarde, e o Sr. Manoel me vendo, foi logo me chamando, balançando o volante do motor: "Aqui, oh Júnior, quebrou mesmo o virabrequim". Pronto!... o poderoso reator de 6 cilindros BF 161 Willys Overland do Brasil, com projeto americano de uns 50 anos atrás, fundido em Taubaté, que equipava a minha Faustina bichou. Que jeito ? Consertar e sentar fogo no bicho novamente, e chamar o Sr. Manoel prá escutar o batido novamente. E, só por desaforo, recomentar: "O barulho desse motor é mais bonito na Rural que no Jeep."

Essa história aconteceu ontem, 01/08/2002, pela manhã, e só agora eu estou analisando as conseqüências. A Faustina rodou depois que nós a compramos, entre a descida do caminhão, obra, lavador e oficinas, uns 25 Km. O Sr. Quito ia todos os dias à roça buscar o leite, e rodava com isso 60 Km diários. Se ele não tivesse a vendido, ela iria quebrar o virabrequim nas proximidades da sua fazenda, no outro dia que ele lá fosse. Sorte do Sr. Quito ? Também. Mas a maior sorte, acho que foi da própria Faustina, que livrou de virar galinheiro em Dores do Indaiá.

13/09/2004, joguei fora o virabrequim da Faustina. Desde que quebrou, acabei por deixar ele num canto da firma, enchendo lugar. Hoje resolvi fotografá-lo e mandar ele seguir seu destino. Lixo ? Claro que não. Coloquei no pé do poste em frente a firma, e lá ele não ficou nem 10 minutos. Um dos catadores de sucata que passam por lá toda hora certamente o levou para a reciclagem. E deve ter levado feliz, pois é peso demais. O pessoal reclama que o BF 161 bebe. Ele tem todo o direito de beber. Só o virabrequim deve ter mais de 30 Kg. Deveria ter pesado ele antes de mandar seguir seu destino.

Estas são as fotos do motor e do virabrequim quebrado:

   

       

   

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